tag:blogger.com,1999:blog-35128742890917296322024-03-05T03:43:45.951-08:00Saoli - contosContos. Segredos da imaginação.Unknownnoreply@blogger.comBlogger20125tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-35424457336841637972015-05-01T17:32:00.002-07:002021-01-16T13:14:19.369-08:00Formas de amor.<div style="text-align: justify;">
Eu fiquei ali olhando. Estava em pé, sentei, cruzei as patas. Olhei, olhei. E você ali, em pé, em frente ao fogão. Mexendo a panela. Um cheiro maravilhoso descia. Uma fumacinha quente e aconchegante me emocionava. E você, a coisa mais linda. Até me perco quando deito aqui e fico te olhando. Esqueço a fome, sua presença me conforta tanto. É tão bom ter você aqui. Mas esse cheiro... </div>
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<br /></div>
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- DESCE, DESCE, JUJUBA!!!</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-79256845640643008372013-10-01T00:35:00.001-07:002013-10-01T00:35:44.350-07:00Muita gente por aí...- Ei, eeeei - ouvi quando toquei na maçaneta - aonde você vai?<div>
- Ué... vou para a Cinelândia apoiar os professores.</div>
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- Tá doido garoto. Não vê o noticiário? A polícia da reprimindo com truculência!</div>
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- Mas pai, nós é que deveríamos estar lá... Protestar é crime?</div>
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- Claro que não é crime... Mas está havendo muita violência nesses atos.</div>
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- Tudo bem, eu vou tomar cuidado.</div>
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- Não é melhor deixar o movimento lá cuidar disso.</div>
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- Que movimento?!? Não tem movimento, somos nós.</div>
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- Nós quem?</div>
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- Eu, você, minha irmã, a mamãe... Pai não tá certo, não tá certo isso! Como que não tem dinheiro para o salário dos professores. Você acha mesmo que é possível continuar como uma situação dessas. Tem dinheiro para tudo, menos para isso?!? Aliás, salário de professor é investimento...</div>
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- Bom filho... espera um pouco...</div>
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- Não dá pai... não dá para esperar mais... eu vou agora.</div>
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- Espera um pouco, vou trocar de camisa e colocar um tênis... eu vou com você.</div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-86658869883688292732010-09-26T21:27:00.000-07:002010-09-26T21:27:15.879-07:00Por que a gente esquece então...<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Verdana", "sans-serif"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">Andei lendo sobre você, que história! Não o conhecia. É engraçado isso. Eu estava com o jornal na mão, o jornal que sempre leio. Nunca tinha dado bola para uma determinada coluna, mas esses dias soube que você morreu e, passando os olhos pelas letras grandes, li um dos títulos: "Uma homenagem a Amaro". Naquele momento estava ouvindo uma música popular causadora de uma sensação de saudade que não me lembro qual. Isso trouxe coragem para ler a coluna do jornal. Descobri que você foi campeão pelo América, jogou pelo Corinthians, pela Seleção Brasileira e até pelo Juventus da Itália. Trocou passes com Pelé, marcou bem o Garrincha... Foi um grande jogador. Poxa vida. Você estava por aqui, jogando ainda suas peladas e nós nem aí para nada. Que pecado. Quantas histórias mais podemos encontrar presentes ainda nesse mundo, são presentes mesmo. No momento em que eu lia fiquei tão emocionado que chorei, não sei o porquê. Por que temos que esquecer? Por que temos que esquecer? Seria mais humano lembrar... A emoção foi tamanha que me pareceu uma boa música aquele time do Mequinha com Djalma Dias, João Carlos, Quarentinha, Pompéia, Nilo, etc. E Amaro é claro. Você me parece ser boa gente. Desculpe só lembrar de você agora, quando o conheci... Mas desculpe também por aqueles que não deveriam tê-lo esquecido. Vem aqui me dá um abraço logo antes que esqueça. Por que a gente esquece, então?</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-84191484575464803232010-03-19T22:05:00.000-07:002010-03-19T22:05:00.547-07:00Estava no céu...<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estava no céu, de alguma forma eu cheguei lá. Bebi bastante no dia anterior e provavelmente, uma besta que sou, devo ter dirigido. Olhando para trás, lembrando de alguns momentos inesquecíveis da minha vida, não pude deixar de observar o quanto eu não merecia estar ali. Lógico que não pensei em voz alta. Não entendo como pode acontecer tamanha confusão. Na fila do elevador havia três pessoas na minha frente. Acredito que aquele elevador deveria ser o destinado a pessoas da mesma região que a minha. Obviamente merecedoras de tal graça. Falo isso porque eu conhecia as três pessoas. Moravam no meu bairro. Um médico, um juiz e um padre. Cara, eu me arrepio até agora de lembrar do grito das pessoas que desciam. Lembro-me bem do momento em que o ascensorista exclamou: - Bem, faltam três! Na minha frente os três sorriram. Eu pensei: “filhos da .... !” E logo depois me arrependi. “Será que pensamento conta? Putz... Se já estava difícil conseguir uma vaga, agora então fu... de vez!” e os pensamentos se descontrolaram “calma, respira, pensa numa folha branca”; “pô, é muita pressão, eles têm que compreender e anistiar alguns pensamentos”; “que injustiça”. Eu senti que o jogo ia virar quando eu vi que o ascensorista estava com a camisa do Flamengo por baixo do uniforme. No desespero, tentei uma malandragem. Neste instante senti que os ventos estavam a meu favor. Comecei a cantarolar o hino do mengão bem baixinho para não explanar... O ascensorista esticou o pescoço como se procurasse de onde vinha o som. Disfarcei um pouco, para não dar pista de que fazia com segundas intenções. Ele fez gestos que, de onde eu estava, de canto de olho, me criou a esperança de que o plano funcionara. Mas que nada... O couro comeu... Dois guardas se aproximaram e começaram a me empurrar, perguntaram se eu sabia ler e me deram tapas na cara para eu direcionar meu rosto para o que estava escrito no cartaz. “Putz grila”. Só na quinta bordoada fiquei tranqüilo para ler o que estava escrito. “Não acredito que não vi uma placa enorme daquelas”. Os caras eram truculentos e os muquiranas da fila ao invés de ajudar iam passando na minha frente. Espremiam-se. Iludidos de que apertando caberia mais no elevador. Entre um chute e outro, uma cacetada na barriga e uma cotovelada, fui vendo o tanto de gente que estava naquela fila. Comecei a sentir a cabeça pesada e já estava de joelho quando consegui ter sobriedade para analisar aqueles infelizes. “Pô, tem até político nessa fila, árbitro de futebol, ex- BBB”; “Não é possível”; “que mole que eu dei, tava fácil, fácil entrar”. A última cena que me lembro é do rosto do capanga cheio de ódio antes de soltar mais uma paulada. Reuni o último suspiro e gritei: - Que merda de céu!! Não sei se os caras continuaram me batendo ou não. Meus pensamentos voaram, cai num sono profundo. Sonhei bastante. Sonhei com os amigos, com meus irmãos, meus pais, e depois acabei lembrando que tive algumas atitudes na vida que poderiam até me render uma suplência no céu. Acho que nessa hora se alguém estivesse me observando deveria me ver com um sorriso de canto de boca. Realmente fiquei feliz com aquele sonho. Acordei numa cama de hospital. “Putz, fui para Terra de novo”. Reparei melhor e estava tudo muito organizado para ser a Terra. Pelo menos que eu me lembre eu não tinha Plano. O quarto era branquinho, parecia o céu. “Ué, peraí. Será?”. Olhei para um lado, olhei para o outro e avistei um vaso com flores e um cartão com o meu nome no criado-mudo. Abri o cartão e li: “Caro Senhor, blá blá blá desculpe-nos pelo transtorno blá blá blá enviá-lo para o lugar errado e blá, blá, blá”. Hahahahahaha. Ainda não consegui parar de rir...</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-34492870415083088362009-08-07T21:45:00.000-07:002012-09-27T20:35:35.816-07:00Diálogos com o cotidiano: ônibus.<div align="justify">
Todo dia. Porta arbitrária. Só abre quando quer. Passa do ponto. Não há ponto certo. No Rio de Janeiro é assim. Todo dia. Freadas bruscas em qualquer parada. Sem necessidade. Todos já veem como normal. Na verdade, aceitam. Não agüentam a recusa quando precisam do mal. Brigam feito mulas se não param fora do local. Andar parece sacrifício então. Para janela correm. Uma dádiva ficar sozinho. Levantar não se pensa. Sucumbem ao cansaço diante de um velho pedaço de ser. Humanos são todos. Todos. Que diacho. Eu também.</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-87559108156408459492008-11-16T06:00:00.000-08:002008-11-16T06:22:30.882-08:00Você pensa demais!- Eu penso antes, você, durante, esse é problema!<br />- Tá só porque eu errei já vai me colocar com os porcos?<br />- Não é isso, nem vem, eu sempre falo para você tomar cuidado com esse seu jeito de decidir as coisas, mas você nunca ouve ninguém.<br />- Tá, tá, você sabe tudo!<br />- Olha só, tá vendo! Essa conversa seria uma ótima oportunidade para você pensar e decidir sobre questões futuras, que com certeza vão ocorrer, mas você quer ouvir? NÃO.<br />- Diz aí, você quer mesmo prever o futuro?<br />- Putz, isso me irrita...<br />- Sério, fala para mim: você quer advinhar o que vai acontecer?<br />- Não, claro que não. Acontece que se hoje traçarmos ao menos um plano geral do que realmente queremos nessa vida, no momento em que a vida nos impuser um dilema, será facil decidir...<br />- E você acha que a vida é fácil assim...<br />- Não estou dizendo que a seja fácil a vida, estou argumentando que será fácil decidir... o acerto ou erro são normais...<br />- Então, o que você está me dizendo é que tanto faz, pensar hoje ou pensar na hora, se tudo pode dar certo ou errado da mesma forma...<br />-Acontece que a diferença está na medida do arrependimento. Uma pessoa arrependida pode passar a medir seus atos a partir de um erro, justamente por que não sabia o que queria num momento de decisão. Isso pode afetar a espontaneidade, a naturalidade com a qual ela deveria viver...<br />- Hm! Interessante...<br />- Ao passo que se você erra convicto de que se sua vida voltasse ao passado um milhão de vezes, a sua decisão seria a mesma, então...<br />- Então você é um tapado! Putz, um milhão e ainda não decorou o caminho certo? Vai me desculpar mas essa pessoa é uma porta...<br />- Ai meu Deus...<br />- Oh! Você pensa demais...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-35769731515299092612008-09-17T07:38:00.000-07:002008-09-21T20:50:11.509-07:00Escuridão, o sentido que perdi!<div align="justify">Escuridão, o sentido que perdi!<br /><br />Não posso aparentar fraqueza, acho que todos aqui idealizam um porto seguro em mim. Sou pai de família. Meu filho mais velho tem 16 anos hoje, exatamente hoje, 05 de outubro de 2008. Pela primeira vez vou votar depois de fiquei cego.<br /><br />Achei que enfrentaria com mais coragem esse momento, mas estou com receio de sair do quarto, nos últimos três anos em que minha visão vem sumindo gradativamente, estava certo de que chegaria à perda total mais confiante sabendo ler pelo menos. Mas é muito difícil... Ai... (respira fundo)... Ai, ai...<br /><br />- Pai, vamos... – falou da sala.<br />- Não você não vai comigo!! – gritei de volta.<br /><br />Minha mulher apareceu depois do meu grito, inquieta.<br /><br />- Amor... O que é isso!<br />- Meu bem, não quero que o Rafinha venha comigo. Quero ir sozinho, quer dizer, só contigo. Nós dois.<br />- Mas querido, ele vota em outra seção, a do colégio dele, então vamos os três juntos só até a esquina. Fique calmo vai dar tudo certo.<br /><br />Infelizmente não conseguia sair sozinho ainda. Tenho que admitir, quero não dar trabalho, mas estou muito limitado, não me adaptei a escuridão total. Ah, Jesus! Então é isso vamos...<br /><br />- Rafinha, vai chamar o elevador meu filho! Seu pai está quase pronto.<br />- Tá bom! Mãe, você teria alguns reais aí? É que o pessoal depois de votar vai para lanchonete, vamos ficar conversando, discutindo sabe, questões políticas.<br />- Sei... Política... Toma aqui, só isso que eu tenho...<br /><br />Sapato, as duas meias estão aqui... Camisa abotoada... Bom, não falta nada.<br /><br />- Meu bem – gritei – vem ver aqui, rapidinho, se as meias são da mesma cor!<br />- Olha, você está lindo, só me deixa ajeitar esses botões... Pronto, perfeito.<br />- Oh! Pai não vai votar errado hein! – risos – porque se você escolher com o mesmo critério que escolheu seu time, estamos fritos!<br />- Ah! Seu moleque, de olhos fechados eu ainda tenho mais noção que você. Ha, Ha, tem que comer muito feijão para me alcançar, e o seu time nem em cinqüenta anos alcança o meu!<br />- Chega de brincadeira crianças, vamos...<br /><br />A nova vida que levo é desafiadora, desafio todos os sentidos que possuo, a cada segundo. Preciso estar bastante atento, concentrado, para desenvolver habilidades que me possibilite mais independência. Mas é cansativo. Que preço se paga para perceber o dom divino com o qual nascemos que nos permite ir ao banheiro sem escorar nas paredes... Andar nesse imenso mundo sem ninguém segurando seu braço... Liberdade.<br /><br />- Opa, quase cai... O que houve?<br />- Um buraco na calçada...<br />- Tchau, mãe... Até mais pai...<br />- Vai com deus.<br /><br />O garoto está crescendo. Que bom vê-lo exercendo sua cidadania. Eu sei que votar é o mínimo que se pode fazer. Ele é novo, não tem tanta experiência para escolher com segurança seu representante no executivo e no legislativo, mas quem tem, não é mesmo? Errar ao votar é compreensível. Votar por votar é que não concordo. A pessoa deve se esforçar o mínimo que seja para que se possa considerar que escolheu. É preciso fugir da imagem vazia.<br /><br />- Chegamos, amor. Vem , por aqui... Cuidado... Tem um degrau aqui... Isso...<br />- Tem fila?<br />- Tem, mas é pequena não vamos esperar quase nada!<br />- Estou meio nervoso...<br /><br />Um beijo. Essa mulher é tudo na minha vida. Passei os últimos meses tentando aprender a ler em braile. Ela me ajudou muito, depois de um dia de trabalho me ajudava até altas horas da noite... Mas acho que não vou conseguir...<br /><br />- Vem amor é sua vez!<br />- Ele ainda assina, Senhora?<br /><br />Ouvi a pergunta, deve ser a mesária. Ora, não sou surdo pô. Que merda!<br /><br />- Olha eu ainda posso ouvir, tá bem?<br />- Descupe Senhor eu não quis...<br />- Tá certo... Amor guia minha mão aqui até o caderno.<br />- Senhora, ele vai precisar entrar sozinho tudo bem – ouvi a voz.<br />- Ah tá, mas eu sou a esposa dele, viu?<br />- Oh, não vou admitir que você continue falando com se eu não estivesse aqui, tudo bem? E essa aqui é minha mulher.<br />- Tudo bem, mas o voto é secreto, sua presença na cabine viola a lei eleitoral, não posso permitir, me desculpe!<br />- Deixa, está tudo bem, eu vou sozinho!<br /><br />Conduziram-me até a cabine, já estava tomado pelo nervosismo. As pessoas da fila sussurravam impaciências. Agiam de forma mesquinha, não admitindo a perda de tempo que minha dificuldade lhes impunha. Aquilo foi me deixando extremamente triste, minha face talvez não escondesse a contrariedade que sentia. A garganta tinha um nó... raiva, angústia, tristeza, vergonha... Pude sentir as teclas da urna. O relevo das palavras em braile nada me dizia. A memória me traiu... Apertei seis teclas e não tive a certeza de que escolhera o meu candidato...<br /><br />- Moça a minha esposa não pode vir aqui me indicar as teclas, depois ela sai...- supliquei, com a voz entristecida e embargada... As lágrimas já pressionavam os meus olhos, e eu entortava a boca para conter o ímpeto delas.<br />- Infelizmente não...<br /><br />Eu sentia que multidão se inquietava, não percebia solidariedade, as pessoas se apresentavam tão cruéis... Meu filho, papai não pode escolher direito... Senti a lágrima percorrer meu rosto, apoiei as mãos na urna e não contive o choro, minhas pernas não eram mais comandadas por mim. Tremiam... Minha cabeça balançava negativamente, inconsolada. Apertei mais três teclas... A sensação é que perdi... Desolado, fui acolhido pelo meu amor. A esperança é que as outras pessoas escolham! Vou enxugar as lágrimas, tentar recuperar o sentido, mas...<br /><br />(Leo Saoli, Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2008)</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-52725051274714304642008-08-15T18:44:00.000-07:002008-08-23T18:13:24.809-07:00Superação!<div align="justify"><strong>Superação!</strong><br /><br />- Tchau, tchau... até segunda pessoal, boa noite!<br /><br />- Ufa! Ainda bem, sexta-feira, vou poder descansar um pouco...<br /><br />- É, isso é ótimo, não é? Hoje ainda tenho uma missãozinha, combinei com as crianças de fazer uma festinha para ver o ídolo delas na TV. Vai ser uma farra! Você não quer passar lá em casa mais tarde?<br /><br />- Ah, nem sei, estava pensando em sair um pouco, tomar uma cervejinha...<br /><br />- Puxa! Você não chamou o elevador...<br /><br /><em>Ai meu Deus! Esqueci das pizzas! As crianças vão enlouquecer, acho que vou descer um pouco antes do meu ponto, naquele mercado de repente tem algo a essa hora.<br /></em><br />- Amiga, acho que vou descer um ponto antes dessa vez...<br /><br />- O que houve menina, deu a louca, vai fazer exercício a essa hora?<br /><br />- Ai, deixa de ser boba, é que esqueci de comprar uma coisa para a casa... Você sabe se aquele mercado perto de casa está aberto até essa hora?<br /><br />- Não sei... acho que sim, costuma ficar não é?<br /><br />- Ai, ai...<br /><br /><em>Às vezes, percebo claramente a diferença entre a Telma e eu.. Estou tão cansada hoje. Ah, que bom, lá vem o ônibus... Nossa meia-hora de espera...Unf!<br /></em><br />- Vamos Marta, está no mundo da lua?<br /><br />- Não... Só me distrai.<br /><br /><em>A janela traz o vento, toca o rosto, distraio um pouco, das dores, do cansaço... Vou encontrar meus filhos, amores, espero o dia inteiro seus abraços. Nossa, queria ter uma caneta agora para escrever isso. Ai, ai... não vejo a hora de ver a carinha das meninas torcendo para valer, pulando, gritando... são tão poucos os momentos que passamos juntos... E o que ganho é tão pouco, me sinto tão impotente às vezes... Pára, pode parar, vamos pensar positivo, nem vem com esses pensamentos agora.</em><br /><br />- Marta...<br /><br />- Hm...<br /><br />- Estou achando meio esquisito aqueles dois caras ali antes da roleta, eles não passam. Já estão a dois minutos conversando com o cobrador!<br /><br />- Chega disso, Telma, você e suas neuroses...<br /><br />- Não sei, não.<br /><br />- Ai, que saco, ninguém vai assaltar nada, tá, pára...<br /><br /><em>Ai Jesus, me ajuda, esse cara aqui do lado não gostou nada do que falei, será que falei alto demais, agora fiquei tensa. Droga Telma! O cara tá rodando a roleta...Que ‘m’...<br /></em><br /><strong>- Vamo, vamo! Passa tudo, vum bora pô!</strong><br /><br /><em>Não acredito, era só o que faltava!<br /></em><br />- Marta, não fica assim, o importante é que não fizeram nada com a gente!<br /><br />- Aquele senhor foi surrado na nossa frente, que covardia! Imagina como vai ser quando ele chegar em casa?<br /><br />- Ah, pelo menos ele tá vivo poxa...<br /><br />- Eh! Parece que essa é a única coisa que esses políticos não arrancam da gente pessoalmente, a vida, mas fazem questão de deixar todo mundo vulnerável a qualquer ataque...<br /><br />- Deixa disso, mulher! Você tem que pensar nas tuas meninas!<br /><br />- Ah meu Deus, e agora! Fiquei sem nenhum real, ai meu Deus, vai ser uma decepção para elas, a gente combinou de fazer uma farra, não tenho nada em casa...<br /><br />- Puxa! Pior que fiquei sem nenhum real também... Vê se alguém te empresta lá na rua...<br /><br />- Ah! Não! Deixa, deixa! Não vou fazer dívida agora, elas vão ter que entender!<br /><br /><em>Unf! Tudo o que se quer é chegar em casa e ficar com os filhos, mas não é simples assim. A gente fica abandonada, completamente, horas esperando o ônibus que ainda vai lotado! Horas até chegar em casa! E pouco tempo depois já temos que acordar, quase não há tempo para viver!</em><br /><br />- MÃÃÃÃE!!!!!<br /><br /><em>Esse coro sempre me faz esquecer de tudo!</em><br /><br />- Vem cá minha filhas, dá um abraço na mamãe. Hmmmm, que gostoso... Olha, mamãe teve um probleminha, acabei chegando tarde não deu para comprar nada para nossa festinha e...<br /><br />- AAAAh! Mãe!!<br /><br /><em>Puxa, não façam essas carinhas, ai, meu coração fica apertado...</em><br /><br />- Não quero ver ninguém triste, hein!! Vamos ficar bem alegres para torcer pelo Brasil!<br /><br />- Eh, mãe, então a gente pode trazer os lençóis aqui para sala para fingir que é a arquibancada? </div><div align="justify"> </div><div align="justify">- Vai mãe deixa, deixa...<br /><br />- Hm! Vocês na são fáceis hein! Tá bom...<br /><br />- Uhuuu!!!!<br /><br /><em>Todas as dificuldades, tanta falta de incentivo, tanto descaso. As vezes penso que ninguém aqui tem pátria, tá cada um por si, cada um fazendo o possível para se superar sem que o governo faça o mínimo que seja para auxiliar no desenvolvimento que nós brasileiros mereceríamos, deveríamos ser uma potência, mas sou feliz por conseguir cultivar o sorriso no rostinho dessas crianças... Olha só elas... estão ali, fazendo a maior farra, no meio da multidão que elas criaram... Haha... agora com certeza elas devem estar em Pequim...<br /></em><br />- Olha meninas! Vai começar... Vai Brasil...<br /><br />- Cielo, Cielo, Cielo...<br /><br /><em>Nossa que danadinhas, sabem até o nome do atleta...<br /></em><br />- Mãe, você viu, você viu... Campeão! É campeão, é campeão...<br /><br /><em>Acho que elas imaginaram um Brasil inteiro... Amo vocês.</em></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-56162772695929577492008-07-12T20:34:00.000-07:002008-07-13T19:12:07.624-07:00Um choro de criança.<div align="justify">Mãos trêmulas. No peito, insuportável incômodo causado pela dificuldade de respirar. O ar preso dividia espaço com a vontade de berrar. Estava mudo. Sufocado. Explodir o silêncio com o grito entalado era a única salvação. Não consegui naqueles segundos. Inspirei três vezes, outra vez, porém não consegui expirar de imediato. Desespero. Olhar de perda. Tristeza...e um choro. Forte. Gritante. Lágrimas escorreram e a boca escancarada. Logo a seguir um abraço.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-89077964847265451282008-07-02T22:15:00.000-07:002008-07-02T23:04:41.283-07:00Não devia ter saído de casa!<div align="justify">Coloquei meu copo sobre o balcão, <em>'não devia ter saído de casa hoje',</em> pensei. Estava numa boate, procurava fugir da solidão de um quarto vazio. Naquele momento, porém, só pensava na minha casa, na minha cama, derrotado pela solidão que sentia ali, com as roupas fedendo, no meio de tanta gente. Via as pessoas em preto e branco, muita fumaça de cigarro, a música batia em meus ouvidos, mas não havia lógica nas baladas, não havia sintonia entre ela e os movimentos dos dançarinos. Coloquei meu copo sobre o balcão <em>'não devia ter saído de casa hoje'</em> pensei. Era a quarta vez que esse sentimento invadia meus pensamentos, já havia perdido a conta de quantas vezes colocara meu copo no balcão.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="justify">'<em>Vou embora</em>' decidi. Empurrei o copo com os quatro dedos da mão direita fazendo-o deslizar pelo balcão para longe de mim. Virei meu corpo e avistei a pista de dança decidido a atravessá-la até alcançar a saída do outro lado. Um mar de gente. No meu primeiro passo, um obstáculo. Esbarrei num cidadão que cruzava meu caminho num sentido perpendicular a trajetória que eu traçara. Não sei se a colisão se deu por conta dos copos que bebi, não sei se por imprudência do cidadão, ou pelo fato da pista estar lotada... Nem quis saber, só queria ir para casa.</div><div align="justify"></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Dei meu segundo passo e o terceiro. No quarto passo, a minha visão se perdeu. Senti minha coluna curvar, meus passos cruzaram-se, e num segundo meus cotovelos encontraram o chão. Tudo estava muito escuro. Não entendia mutio bem o que ocorria. De repente um impacto na barriga. Várias pernas se aproximaram e junto com as pernas, os pés. Estes procuravam meu rosto. Mesmo com as mãos tentando protegê-los, comecei a sentir um líquido quente escorrer. Sangue.</div><div align="justify"></div><div align="justify"> </div><div align="justify">Não houve tempo para perceber a dor, antes de tudo escurecer, lembrei rapidamente do noticiário do fim de semana. Minha família passou como um raio na minha cabeça. <em>'Nunca mais iria vê-los'</em>. Meu corpo desfaleceu. </div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-53619743220855890552008-04-12T17:24:00.000-07:002008-04-14T05:00:02.175-07:00Tarde Bela...<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"> Uma estrada vazia, sem curvas, para os dois sentidos apenas uivos dos ventos. Vasto verde à beira da estrada, provavelmente aquele homem estava ali em pé, olhando a estrada, já a algum tempo. Como se esperasse algo e não houvesse hora para acontecer, uma eternidade. A noite chegaria logo.<br /></span></div><span style="font-size:100%;"><br /></span><div style="text-align: center;"><div style="text-align: center;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;"><br />Naquela chuva,</span><br /></span></div><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">no verão,</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">alguém lhe cobriu.</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">Naquela tarde,</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">você se machucou,</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">quem lhe deu a mão.</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">Se lembra dos domingos</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">o dia era tão lindo</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">alguém lhe abraçou...</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">Chegou feliz da vida</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">e com os amigos</span><br /></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">foi viver</span><br /></span></div><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;"><br /></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;">"Ha, ha, ha". Um risada gostosa, divertida. "E aí? Vamos lá?". Amigos reunidos, televisão ligada numa sala quadrada, um sofá confortável e uma mesa de centro. Jovens. Uma mulher nova e bela entra trazendo uma bandeja com petiscos para a turma. "Ah! Mãe valeu... o pessoal nem tá ligando muito para comida". "E vocês vão ficar bebendo sem comer nada... nada disso!". Horas depois, todos riam da última piada. Chega o momento de partir. "Cadê a chave?!?".<br /></span></div><span style="font-size:100%;"><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">Vento no rosto<br />um lamento dos pais<br />um silêncio, um sufoco,<br />tormento...<br /><br /></span></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;">Vento no rosto<br />um lamento dos pais<br />um silêncio, um sufoco,<br />tormento...carro fatal<br /><br /></span></span><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:100%;"> </span><span style="font-size:100%;"> O dia se despediu a tempo de não ver aquele homem se desfazer. O corpo imóvel que contemplava aquela estrada como se de cera fosse, sem alma, num segundo enrijeceu a face, enrrugou-se, num outro encolheu os olhos e logo fez chover, uma tempestade sobre o seu mundo. Seus ombros não aguentaram e uma corcunda se apresentou para incliná-lo, tirá-lo do eixo e fincar seus joelhos no chão...<br /></span></div><span style="font-size:100%;"><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;font-size:100%;" >"Tarde bela<br />Tu navegas em meu pensamento<br />te espero no silêncio desse tempo<br /><br />A saudade é forte<br />Arde no meu peito<br />és o amuleto<br />que me faz ficar"<br /></span></div><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;"></span></span></div><span style="font-size:100%;"><span style="font-style: italic;"><br /></span></span></div><span style="font-size:100%;"><br /><br /><span style="font-style: italic;"></span></span><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-6250983857178975722008-04-01T21:16:00.001-07:002008-04-01T22:07:52.045-07:00Van experiência<div style="text-align: justify; font-family: arial;font-family:arial;"><span style="font-size:100%;">Fim do dia. Cai a noite. cachorros latindo, rua de terra batida, casa simples, dois cômodos, família reunida. Mãe e três filhos: uma jovem senhora, um rapaz e duas meninas. Mesa posta, arroz, feijão e batatas cozidas. Hoje não tem carne.</span><span style="font-size:100%;"><br /></span></div><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /> - Meu filho, você precisa arrumar logo esse emprego, como foi hoje?<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" > - Poxa! Não quero falar agora, deixa minha cabeça descansar um pouco!<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" > - Sua irmã amanheceu com febre, não tem como você falar com aquele seu amigo do posto...</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span> - Unf...</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /><br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" >Claudionor desde que completara dezoito anos procurara auxiliar a mãe e as duas irmãs, mas era massacrado por constantes insucessos. Sua cabeça estava prestes a explodir. Todo dia o que mais lhe desagradava era ter que informar suas derrotas. O caminho longo, árido e cansativo que percorria todos os dias não incomodava. Angústia mesmo sentia quando sentava à mesa, no fim da jornada.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br />A noite passada atormentou sua cabeça. Quase não dormiu, mas bem cedinho abriu os olhos. Ergueu o corpo sentando no seu colchonete seco no meio da sala e contemplou à sua volta. Uma pequena TV, paredes descascadas da última enchente, sofá ausente e a porta... Símbolo do início de cada nova batalha.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br />Arrumou-se. Celular no bolso, chave de casa, tirou o brinco – “pareça o mais normal possível e mostre que tem caráter” ouviu de um grande amigo de seu pai, feirante da região, não concordou de início, mas àquela altura, não dava para arriscar -, abriu a porta.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""> </span><br />Colocou os dois pés sobre o capacho, inflou seu peito com ar puro e contemplou com a cabeça erguida... Montanhas verdes. Olhou para as casinhas mais distantes, olhou para os lados e não avistou qualquer veículo. Rapidamente, então, pôs-se a marchar tal qual um atleta de marcha olímpica, porém, não tão rápido que o fizesse suar, nem tão devagar que permitisse ser atacado pela poeira que subiria da rua sem asfalto quando a primeira carroça o ultrapassasse.</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /><br />Alcançou a primeira rua asfaltada e seguiu por ela. Não era o caminho mais curto, mas era o melhor caminho. Claudionor já havia percebido que para vencer seria preciso muita concentração, não poderia repetir os erros. Muitas vezes achou não ter conseguido o emprego em razão de chegar todo suado, mulambento. Seu caminho até a Capital do Rio era longo e ele não poderia mais falhar. Por isso, acordava mais cedo para poder fazer o trajeto com mais calma. Escolheu o caminho mais longo até o ponto da van, porém com ruas asfaltadas, o que evitaria a poeira permitindo desembarcar no Rio de forma apresentável.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>Na hora de escolher a van a mesma coisa. Como acordava cedo, aguardava que saísse aquela van com ar condicionado, do contrário, tudo estaria perdido.</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span> <br /> - E aí Nonô?! Vai tentar a sorte de novo – gritou um conhecido que se considerava mais íntimo do que deveria, sabe como é, né?</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br />- É! - respondeu Claudionor, seco e concentrado, não alimentando o ímpeto do sujeito em continuar falando, aliás, odiava que o chamassem de Nonô.</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /> - Quer saber Nonô, não sei o que você vai fazer lá embaixo, posso dizer com sinceridade, já trabalhei numa empresa muito grande lá no Rio e digo uma coisa: NÃO VALE À PENA! Todo mundo só quer que você rale, rale, rale e na hora de reconhecer o talento, de dar um aumento, uma folguinha a mais que seja, o que se recebe é um NÃO, bem alto e sonoro! A melhor coisa que você faz é ficar na tranqüilidade que a gente tem aqui, aqui todo mundo é irmão, é parceiro, não tem essa de crocodilo e...<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /><span style=""></span>Em determinado momento Nonô, quer dizer, Claudionor, já havia deixado de registrar as palavras do sujeito. Aplicava a técnica que desenvolvera chamada “Sei... Hum, hum... É mesmo...”. Consistia em reproduzir palavras que podiam sair automaticamente sem que precisasse refletir sobre a mensagem do interlocutor o que lhe permitia conversar sem gastar energia nem se estressar, assim, não magoava o interlocutor e todo mundo saía feliz e contente.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br />A van com ar condicionado então se posicionou, ela seria a próxima para o Centro do Rio. A primeira etapa do trajeto rumo ao sucesso tinha sido completada com perfeição. Claudionor sentou-se perto da janela na segunda fileira de bancos (a primeira costuma ser mais apertada) e sentiu uma sensação de vitória, sabe criança quando passa de fase naquele jogo de vídeo-game complicadíssimo, então, representava o semblante dele.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br />A van estava quase cheia, o que significava que logo iria partir e com isso Claudionor chegaria com folga ao seu destino. Motor ligado, ar condicionado na medida, pessoas conversando, o sol começava a ocupar o seu lugar. A porta da van se fecha e o carro começa a se mover. Do lado de fora, um grito:<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""> <br /></span> - É Rio, vai pro rio, vai mais dois, mais dois...<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>Ao lado do Claudionor não havia ninguém o que significaria que as duas últimas pessoas obrigatoriamente sentariam ao seu lado. O grito Claudionor não registrou, pois estava muito concentrado, mas quando a van parou, ele levantou a cabeça.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br /> - Meu Deus! – falou baixinho resignado.</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /><br /></span>Quando olhou pela janela, o que via retirava de sua face o ar de tranqüilidade que até então preservara. Caminhavam em direção à van duas pessoas, uma delas um rapaz magro, moreno, bigodinho da moda, cabelo amarelo... Até aí tudo bem. A outra pessoa: uma senhora imensa, gorda, com uma sacola grande, gigante... Uma... Em cada braço!<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>À medida que eles caminhavam em direção à van Claudionor, só pensava numa coisa, quer dizer em duas, digo, na verdade não pensava, não conseguia pensar, mas falava em voz baixa sussurrada e sofrida:<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span> <br /> - Caracas, vai amassar toda a minha camisa... Tomara que ela sente na outra ponta...<br /><br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" >É que cada fila de assentos de uma van tem três lugares (exceto a do fundão), se a senhora sentasse no meio, fatalmente sua camisa, cuidadosamente esticada fio por fio por um ferro de passar da energia racionada de sua casa, estaria fadada a virar maracujá. Por outro lado, numa iluminação divina, caso o maluco do bigodinho fosse solidário o suficiente para sentar no meio, e era essa sua prece, haveria uma chance dele, Claudionor, salvar sua camisa.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>Não houve jeito, numa jogada de mestre o maluco do bigode, permitiu a ultrapassagem da senhora e foi o último a entrar. Claudionor, humildemente, registrou essa nova lição: ‘<i style="">seja sempre o último a entrar</i>’.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>A senhora, então, sentou ao seu lado e Claudionor passou a tentar que seu estado psicológico também não fosse afetado por aquele baque.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /> </span>- Ai, Ai – gemia a senhora tentando acomodar as duas bolsas em seu colo – Nossa, tá difícil, meu deus do céu, ai, ai – e já era o segundo sinal que a senhora dava para que alguém lhe ajudasse.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span>Com muita dor no coração Claudionor se fez de desentendido, já não bastava chegar ao Rio igual a um maracujá não poderia chegar mancando por carregar nas pernas uma daquelas sacolas, elas pareciam muito pesadas. Foi então que o mestre do bigode lhe deu mais uma lição. A van mal começou a andar e ele já dormira, quer dizer, ou Claudionor ajudava, ou a Senhora iria lhe mostrar que sim, poderia ir da Baixada até o Rio reclamando.<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br />Mas não foi isso o que pensou, ele viu que sendo mesquinho não chegaria a lugar nenhum. E Já que estava todo amassado mesmo, não lhe custaria nada aquele gesto...<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span><br /> - Senhora, senhora – cutucou gentilmente aqueles braços que o espremiam contra a janela - dê-me aqui uma destas bolsas, eu lhe ajudo!</span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""><br /></span> - Ai, meu filho, eu não quero lhe aborrecer...<br /></span><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><span style=""></span> - Senhora, por favor... – Claudionor, retirou-lhe a força com muito cuidado, pouca paciência e posicionou aquele peso todo em cima das pernas e pensou ‘<i style="">só não posso começar a suar</i>’.</span><span style=""><span style="font-family: arial;font-family:arial;font-size:100%;" ><br /><br />A senhora sorriu e agradeceu dizendo que estava muito velha e que sofria de não sei o quê e.... “Sei... Hum, hum... É mesmo...”. Claudionor até buscou extrair daquele sorriso a lembrança de sua querida avó, ‘<i>que saudade</i>’, mas logo desistiu e passou a contemplar o que se passava pela janela e lá no fundo dos seus pensamentos uma lição <span style="font-style: italic;">"durma cedo".</span></span><o:p></o:p></span></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-6780341927248678732007-12-22T11:08:00.000-08:002007-12-22T12:11:23.906-08:00Não chora, vai passar!- Não! Não tem como você explicar a minha existência! E se meu destino indicar no sentido do mal? Como saber quem sou? Prever o que pode ocorrer?<br /><br />- Meu filho... Vem cá.<br /><br />A mulher, de vestido estampado e olhos <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">umidecidos</span> pela dor que sua experiência ensinava a sentir em momentos como aqueles, abraçou o rapaz. Ambos estavam sentados num banco de rua. Os ventos balançavam seus cabelos enquanto a mulher trazia com as mãos a cabeça do rapaz para repousar em seu ombro.<br /><br />O rapaz sofria. Um sofrimento infantil por coisas da vida. Era um jovem frágil de estatura mediana que acabara de saber que não saíra do ventre de sua mãe. A sensação de quem o viu no momento da revelação foi a de que o menino teve o coração retirado e no lugar colocado uma pedra de gelo. Seu corpo todo esfriou. Sua face entristeceu e expressou um sentimento de interrogação:<br /><br />- O quê? Repetia sucessivamente.<br /><br />A mãe sabia que não seria o fim do mundo revelar tal segredo, mas também sabia que até o rapaz entender isso, sofreria um pouco. Logo que a pedra de gelo derreteu as pernas do rapaz começaram a se mover e ele correu. Esperava no inconsciente que estivesse chovendo lá fora, para compor o momento, mas era o dia mais quente do ano. Dezembro, Rio de Janeiro.<br /><br />O rapaz, que não era um atleta, logo cansou. Parou, respirou fundo, bem fundo mesmo e se desconstruiu em lágrima. Desmoronou. A mãe se aproximava acompanhada de um tio do rapaz. Antes de <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_1">alcançarem</span> o garoto, a mulher suplicou ao tio que os deixassem a sós naquele momento. Dois minutos de insistência e o tio cedeu, foi embora.<br /><br />A cidade estava linda, a praia estava cheia e o rapaz nunca tinha visto tanta gente feliz em toda a sua vida e quanta gente bonita, mas seu coração martelava suas tentativas de renascer. A mulher se aproximou e o ergueu. Os dois sentaram no banco. O rapaz tinha os ombros caídos de depressão e derrota, foi quando ele <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">esbravejou</span> as dúvidas que lhe acometiam em relação a sua existência.<br /><br />Enquanto abraçava sua mãe, ergueu os olhos, e, ainda com a visão <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">embaçada</span> com as fugas das lágrimas, viu na calçada uma criança correr em seu sentido, se desequilibrar e cair. Ao tocar o chão a criança exercitou a força dos seus pulmões num grito ensurdecedor de choro.<br /><br />Rapidamente o rapaz <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_4">alcançou</span> a criança, foi o primeiro a chegar. Pegou a criança ainda de boca aberta, passou a mão com ternura em sua cabeça falando baixinho:<br /><br />- Não chora, não chora, vai passar...<br /><br />Os pais da criança chegaram e com um sorriso agradeceram antes de receberem a criança de volta. Despediram-se e seguiram... O rapaz observou a família desaparecer no horizonte e um senhor que desde a outra ponta da praia vinha desejando feliz natal para todos, fez o mesmo com ele. O senhor andava bem devagar com o corpo meio curvado, mas com um sorriso de criança. Com isso veio na mente do rapaz as primeiras palavras que ouviu logo após a revelação:<br /><br />- Tu num vai chorar por isso!! <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_5">Disse</span> o tio insensível.<br /><br />"É mesmo" já pensava o rapaz àquela altura.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-21411639010388794202007-10-28T19:50:00.000-07:002007-10-28T20:05:05.862-07:00Metal abandonado.Desde que caíra pela última vez não houve um minuto em que não se dedicou para ser aproveitado ao menos uma vez mais. Ele fora abandonado no pé de uma amendoeira, naquele pé, rodeado por terra escura, com marcas de homenagem canina de toda espécie: toda espécie de marcas, toda espécie de cães.<br /><br />Trazia na face o desgaste, sinais que apontavam uma existência difícil. No dia em que o encontrei, um sol de deserto agredia quem se atrevesse a encará-lo. Céu azul, uma imensidão azul. A minha pele negra suava como cachoeira e para fugir da agressão do sol, olhava para o chão, asfalto inundado pela ilusão do calor.<br /><br />Enquanto meu peito inflava e esvaziava pela exaustão dos meus esforços, colocava as mãos nos joelhos e percorria a via, somente com o olhar. Lá estava ele: o metal abandonado.<br /><br />No momento em que o avistei, meu corpo relaxou, soltei muito do pouco ar puro colhido por meus pulmões e ergui a cabeça olhando para o céu. Não dava graças a nada, não agradecia nada, ao menos naquele segundo. Apenas descansava mais um pouco até começar a caminhar em sua direção.<br /><br />‘Como é possível que alguém seja tão descuidado a ponto de perder um metal tão bonito?’ Pensei, enquanto me abaixava para pegá-lo. Segurei o entre os dedos e ergui até a altura dos olhos. A sujeira impregnada em sua face era obstáculo desprezível para impedir minha paixão. Permaneci hipnotizado por seis segundos.<br /><br />Faltou-me coragem para colocá-lo no bolso. Minhas roupas eram sujas. Mantive-o na altura dos olhos. Foi quando lembrei da minha pulseira de barbante que carregava enrolada no pulso já há algum tempo, desde que ganhara um papel fedido de um motorista com semblante de anjo.<br /><br />Havia amarrado o papel para que não o perdesse, já que aguardava ansioso a realização da profecia do anjo: ‘guarde e coma algo com isso’. Não bastasse minha pobreza, ter que carregar, como um amuleto, aquele papel fedido e sujo, era incompreensível, mas até então nenhum alimento surgiu para que, acompanhado do amuleto, suprisse minha fome e assim ver cumprida a profecia.<br /><br />Imediatamente desamarrei o amuleto e amassando-o coloquei no bolso. A intenção era amarrar o metal para não cometer o mesmo erro de seu último dono. Só que a barriga doía demais e com aquela riqueza poderia me fartar num banquete. Resolvi dá uma forcinha para a profecia.<br /><br />Virei a esquina caminhando para o bar do Ademir e quase tropeço num cidadão que se encontrava sentado no chão com a perna esticada. Era o Cumbuca. O infeliz vivia ali com uma camisa de linho de manga comprida, amarela encardida, rasgada na altura de um dos ombros. Ao seu lado uma cumbuca vazia que ele dizia ser mágica.<br /><br />‘Mágica?’ Indaguei um dia desses. ‘Mágica sim! Tira o olho!’ Gritou. O cara-de-pau tentou me convencer que de tempo em tempo uma nuvenzinha escura sobrevoava a cumbuca e despejava uma pequena chuva de metais preciosos. ‘Balela!’, falei.<br /><br />Até hoje eu não acredito, mas houve um domingo em que ele me levou para jantar com os irmãos dele. Ele arcou com a refeição de todos. Numa praça grande, todos os irmãos formaram uma fila imensa, cada um recebeu a comida num lindo recipiente prateado, foi uma festa. Coisa fina. ‘Deus o abençoe’ dizia a moça jovem que entregava o alimento, devia ser uma prima distante, pois o Cumbuca nem olhou para ela direito, pura vaidade do poder.<br /><br />Quando vi o Cumbuca sentado naquela esquina lembrei desse dia de fartura. Não seria justo da minha parte não convidá-lo para me acompanhar. Dei duas bicudas na perna dele e o danado não acordou. Abaixei bem perto do seu ouvido: OH! CUMBUCA DOOOIDO! O safado se assustou e bateu com a cabeça na parede. Ha, ha, ha... Quase morri. Sério. Estava fraco por causa do calor e da fome, não consegui respirar por cinco segundos com a crise de riso que me acometeu. Fazia dois dias que não ria assim, de gargalhar.<br /><br />- Seu narigudo maluco! Já não te avisei para não fazer isso. Agora a nuvem se dissipou! Inferno!<br />- Calma... Eu vim justamente te convidar para almoçar lá no Ademir.<br />- Vai sozinho...<br />- Por quê?<br />- O Ademir não me quer pelas redondezas por conta do porre de quarta.<br />- Você bateu nos clientes de novo?<br />- VAI, VAI, SAI DAQUI! SAAAI..., gritou.<br /><br />Segui meu caminho, mas resolvi que traria um pouco de comida para o Cumbuca. O Ademir era um cara legal, mas quando ficava bravo dava umas tapas fortes na nuca da gente, o melhor para o Cumbuca era não aparecer mesmo. Andei de cabeça baixa fugindo do sol por uns dois quilômetros. Não avistei nenhum outro metal. ‘Puxa vida, o Ademir está fechado’.<br /><br />- Seu Valdir?<br /><br />Seu Valdir era um maluco que foi preso pela família real numa caixa de ferro e condenado a entregar papéis fedidos também, mas que contavam as histórias da cidade. Certa vez o Cumbuca apareceu num desses papéis, quando, depois de um porre, fora levado para passear com uns soldados da corte. Naquele dia não o vi dormindo na esquina.<br /><br />- Fala Pelica, mas fala daí... Não... Vai para o outro lado, contra o vento... Isso! O que você quer? Resmungou Seu Valdir.<br /><br />- Hoje vou à forra, Seu Valdir! Sou rico! Olha o metal que achei!<br /><br />- Cruzado, Pelica?!? Ha, ha, ha... Só você mesmo para me fazer rir.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-38748473271903799322007-10-24T19:46:00.000-07:002007-10-24T19:47:02.199-07:00EstágiosEstágios.<br /><br />Mergulhão, Centro do Rio de Janeiro. Desembarco para mais um dia de “guerra”. Na verdade uma guerrinha boa que é até divertida. Um estagiário no Centro passa por verdadeiras peças teatrais a cada instante. A começar pelo horário de chegada.<br /><br />- Puxa, vida! Um hora e quarenta, não vai dar.<br />- É rapaz! O trânsito hoje não tá legal, não ta fácil.<br />- Odeio ter que correr...<br /><br />Até que não chama tanta atenção uma pessoa de terno e gravata. No Centro é até comum. Uma pessoa de terno e gravata, correndo... o que é que tem, né? Pode ser algum prazo, todo mundo entende. Agora o que não deve ser corriqueiro é uma pessoa, de terno e gravata, se esforçando ao máximo para correr cada vez mais rápido – postura de atleta, rosto apavorado como se não respirasse – e com certeza com um expressão facial muito, mas muito engraçada. Só isso explicaria a fato de todo mundo estar me olhando.<br /><br />Na certeza de que não ganharia nada com isso, já que o atraso estava consumado, cheguei vivo.<br /><br />- Boa tarde, boa tarde... E aí, Geraldo, tudo certo? Rosana, o Doutor perguntou por mim?<br />- Perguntou sim. Está lá na sala dele quer falar com você.<br />- Xiiii...<br /><br />Bom, quando se tem uma só opção podemos até descansar o cérebro. Vamos lá. Não tem outro jeito, né? Com certeza hoje ele veio de bom humor. Acho que não é nada demais. Calma, rapaz, calma! Respira fundo...<br /><br />- Boa tarde, Doutor.<br />- Unf!! Não tão boa assim. Você está com algum problema. Está havendo alguma coisa. O estágio não está te agradando...<br />- Não é isso, doutor, é que...<br />-Hoje você só escuta! E não quero saber mais de atrasos. A vida não admite atrasos. O direito não admite atrasos. E será melhor para você compreender isso e... Quando eu era estagiário... Porque a vida... Eu falo isto para o seu bem e... Bom por hoje é só, vá fazer as diligências que estão na sua mesa e juízo.<br /><br />É chato quando chamam a nossa atenção, poxa, foi legal da parte dele ter dado aqueles conselhos. Tudo bem, mas não precisava ter gritado. Isso incomoda... Vou esfriar a cabeça chutando essa latinha, o legal de estagiar assim é poder dar uma volta de vez em quando...driblou um, eh, driblou o segundo, olé, tam tam tam... tam tam... tam..., e a galera vai à loucura... Passa por debaixo das pernas do zagueiro e...<br /><br />- Oh, oh! Não sabe brincar não, é?<br /><br />Poxa vida, o cara levou a latinha... sacanagem...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-82100627422122981202007-10-24T19:40:00.000-07:002007-10-24T19:42:35.747-07:00Forças<div align="justify">Forças<br /><br />Rio de Janeiro, 01 de julho de 2003.<br /><br />1.<br />Prometa-me, de uma vez por todas, que nunca deixará de acreditar que vai conseguir, continue buscando. Não deixe de tentar alcançar seus objetivos. Parece repetitivo, mas é o que realmente gostaria de lhe dizer.<br /><br />A gente pensa que as forças do universo se refletem apenas nas grandes invenções da natureza, nos ventos, nos mares, furacões e tempestades; na Lua, nos vales, no Sol, mas percebi outro dia – um dia desses em que não se percebe nada porque o Sol não queima e o frio não incomoda – observando o mundo da janela de um ônibus, que as forças se encontram onde menos esperamos e nos lugares onde menos nos preocupamos com isso. Muitas vezes, passamos por universos maiores que o nosso e nem percebemos sua grandeza de tão pequenos que são.<br /><br />Olhando da janela tudo estava normal, as pessoas andavam normalmente apressadas e com olhares cansados. Já se aproximava o final do expediente de um dia corrido. Num círculo, trabalhadores riam de alguma piada enquanto que outros passavam por eles correndo para alcançar o ônibus. Um garoto de camisa folgada e com um sorriso distribuía folhetos nos quais dizia ‘DINHEIRO FÁCIL’ observando um rapaz que varria a rua e brincava com um senhor barrigudo de camisa desabotoada que passava vendendo guarda-chuvas num dia lindo na Cinelândia.<br /><br />Aquele espaço imenso calçado com pedras portuguesas deve caber um milhão de pessoas. As construções antigas da Biblioteca Nacional, Câmara do Vereadores, Theatro Municipal ajudam a manter a Cinelândia presa ao passado. Um mundo próprio. Encontrava-se ali uma mendiga sentada na entrada do metrô numa bancada de cimento. Seus pés não tocavam o chão. Suas mãos enfiadas entre as próprias pernas, com os braços rígidos, como se sentisse frio apesar do calor, lhe davam um tom sombrio de quem não compartilha do nosso mundo. Seu tronco balançava sem parar, para frente e para trás, para frente e para trás, para frente e para trás...<br /><br />Minha atenção, porém, foi atraída para uma cena que ocorria ao fundo. Atrás das pessoas que passavam de um lado para o outro avistei uma senhora. De longe percebi que caminhava com dificuldade, sua perna direita, a cada passo, vinha arrastada pela esquerda. Seu andar se destacava na multidão. Segurava na mão esquerda uma menina que presumi ter não mais que quatro anos.<br /><br />2.<br />Era uma mulher de gestos fortes e decididos, com um ar protetor, seus cabelos cinzentos não escondiam que o tempo lhe havia castigado, mas seus olhos impressionavam porque descreviam a noção exata de seus anos de juventude e foi o que confirmei quando olhei a menina e vi a senhora retratada, conforme diziam seus olhos, mas sem rugas e cicatrizes, sem marcas. Estava presente na criança o mesmo ar de juventude eterna.<br /><br />A menina de cabelos dourados parecia iluminada, transmitia uma sensação de alegria tácita mesmo que sua expressão naquele momento fosse de espanto. Enquanto a senhora segurava a menina pela mão e, devido ao mancar, puxava a cada passo com trancos que faziam seus cachos balançarem, ela apontava para frente dizendo algo que não pude decifrar mas que lhe forçava a fazer um bico de peixe. Logo após alguns metros, passou a olhar para trás jogando o peso do corpo para baixo dificultando o avanço da senhora e tentando chamar a atenção para alguma coisa que havia ficado para trás. A senhora, então, com feição de impaciência, deu-lhe um tranco mais forte trazendo a menina para junto de si e em seguida desferiu frases e em alto som que obrigavam suas sobrancelhas a enrugarem ainda mais a testa. A menina não chorou, não esperneou, de cabeça erguida e com os dois braços descansados para baixo, ficou estática, mas com uma força tão grande no olhar que não saberia responder qual sentimento era aquele e o que se passava naquela cabecinha. Antes, porém, que acabasse o sermão a menina se soltou partindo numa carreira em sentido contrário ao de sua mãe, desviando das pessoas que, num ato de reflexo, protegiam suas carteiras.<br /><br />O Rio de janeiro não passa por um momento muito bom, a violência ecoa por aqui como nunca vi antes. Imagino o desespero daquele senhora vendo aquela criança inocente sair correndo por um floresta obscura de pessoas desconhecidas. Lembro-me bem do seu semblante. Menos de um minuto se passou para que sua feição passasse do espanto à serenidade e daí a um estado de alegria e emoção. Um sorriso foi surgindo no canto de sua boca e antes de tomá-la por inteiro uma lágrima correu ao seu encontro para que, juntos, sorriso e lágrima, testemunhassem aquele momento que fazia a senhora esquecer um pouco todos os tormentos do cotidiano e sentir a vida ao menos mais uma vez. Seu coração pulava. Naquele instante a senhora se lembrava do porquê de seu olhar manter para sempre um espírito juvenil e apesar de sua deficiência também correu. Não se importou com todos os problemas e conseqüências que o esforço poderia acarretar e imprimiu um ritmo que deveria ser o mais forte de sua vida, motivada por um sentimento impulsivo e irracional de adolescente quando se apaixona.<br /><br />3.<br />Quando vi a menina saindo em disparada senti um pavor com a situação. Não entendia da onde vinha a segurança de partir sozinha no meio da multidão. Temi por ela. Como podia uma menina, e naquela idade, não ter medo de um mundo tão grande a sua frente? Foi então que ela parou diante de uma criança de sua idade que chorava insistentemente sozinha, solitária, deserta e suja, esfregando uma das mãos na outra sem parar, num angustiante movimento de fricção como o de quem lava as mãos, de joelhos e com um melado descendo do pequeno nariz. A menina dourada de pureza insuperável, sem preconceitos ou discriminações, se inclinou e abraçou a criança que chorava de forma um pouco desastrada, encostou seu rosto no rosto dela e, ainda com os braços enlaçados na criança, lhe deu um beijo na bochecha.<br /><br />A senhora, quando as alcançou, contemplou por alguns segundos a cena e depois colocou as mãos no joelho se inclinando para frente. Não notei se dizia algo à criança ou se recuperava o fôlego, mas isso já não importava mais. Senti um vento no rosto, percebi que o ônibus partia. Avistei de longe a senhora pelo seu andar, e de cada lado havia uma criança. Uma, era a menina iluminada de cabelos dourados e cacheados que tivera forças para ajudar mesmo não sabendo ao certo o que acabara de fazer; a outra, a criança que já não chorava mais e que não consegui distinguir se era menino ou menina.<br /><br />Milhares de pessoas passavam naquele local, uma infinidade de histórias se cruzavam a todo o momento e se a menina não tirasse forças de sua pequenez a criança remelenta choraria até hoje na minha mente e nunca mais pararia, já que o ônibus partiria e não mais poderia voltar àquele dia, naquele instante. As duas pequenas mãos estariam se esfregando uma na outra numa angustiante repetição eterna como o que deve ter acontecido com a mendiga que até hoje está se balançando para frente e para trás sentada em algum lugar do Centro do Rio.<br /><br />Perderia milhares de anos para achar força tão grande em tão pequeninos gestos, nas pequenas coisas, numa criança que olha uma folha pegar carona numa brisa. De fato tenho sorte.<br /><br />Forças estão dentro de nós, tenho certeza. Não se preocupe comigo e termine seus estudos. A distância não apagará o que vivemos juntos. Parece repetitivo...mas é o realmente gostaria de dizer.</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-31034087264002399842007-10-08T09:16:00.000-07:002007-10-10T14:52:51.951-07:00Vizinhos: loucos.- Que loucura meu Deus, que loucura!<br /><br />Uma voz gritava, gritava mesmo. O que se vai pensar, né? Alguém está enlouquecido, pois da forma como essa mulher esbraveja, parece que ela tem certeza de que o louco é louco mesmo e portanto aquilo só poderia ser...<br /><br />- Eu não acredito! ESSE HOMEM É LOUCO???<br /><br />Ah! Pronto, está em dúvida, se decide logo mulher e volta a dormir, ainda devem ser oito e meia da manhã. Virei o rosto, para me esconder entre almofadas, tentando proteger o sono daquela histeria. Vocês podem até pensar: insensível! Alguém gritando a essa hora, pode ser grave. Mas de vez em quando essa maluca tem uma pane e estressa todo o prédio.<br /><br />Caramba! Minha cabeça dói demais! Parece que vai explodir! Alguém com uma chave inglesa aperta, aperta e apeeerta! Ah! A cada latejar chego a enrrugar a face. Não aguento mais de dor. Se a porcaria do time não tivesse perdido teria bebido menos. E ainda esse sofá desconfortável...<br /><br />- ESSE IDIOTA! Vou processá-lo por isso!<br /><br />Agora o louco é idiota. Está se valorizando, mas vamos nos concentrar, abracei a almofada e fechei os olhos com força para retomar aquele sonho muito doido. Ah, acho que não vou conseguir dormir e...<br /><br />- Peraí, que loucura é essa? Onde é que estou?<br /><br />Levantei num pulo, e me esburrachei no pé do sofá. Espalhado no chão, com os braços abertos, virei os olhos para um lado e para o outro. Foi só o que consegui. Estava num lugar esquisito, com jeito de século passado, um cheiro de naftalina invadiu minhas narinas e abafou o som de alguns xingamentos que vinham do outro lado de uma porta velha, com a tinta meio descascada. Desorientado, mas percebendo um sentimento de derrota no coração, não consegui raciocinar e lembrar o porquê estava de calças, naquele sofá.<br /><br />- TOC, TOC, TOC, amor é você que está aí? Abre a porta, a vizinha me ligou enlouquecida...Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-78608840353831026232007-09-30T22:12:00.000-07:002007-10-02T11:08:11.908-07:00Gigantes<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS2uHY64MbW-okAse-Rd84qjcVt_B9EjwPiIu5QB6Div00_RLNVWLzo5Iwr67dl4a3Qkpvs4rNTWxgBRrFVbWsyKHYq7JgEH68EOubjCJAGzcPNwwlNIYvkgBYZvJxBmTU4OKyGbsfm6xR/s1600-h/mongesbirmania.jpg"></a><span style="font-family:verdana;">Um barulho de multidão pareceu me despertar. Abri os olhos devagar, estava ofegante, respirava com dificuldade. O ar estava empoeirado e uma neblina de fumaça confundia minha visão, meu corpo teimava em querer dormir, exausto. Tão logo o cérebro conseguiu processar as imagens e perceber o que ocorria, uma dor ensurdecedora tomou conta do meu peito. </span><span style="font-family:verdana;">A respiração virou um exercício desgastante. A dor pulsava e irradiava para todo o corpo. Reparei, então, que estava deitado no chão da rua. O asfalto de tão quente já não queimava mais, sentia frio. As feridas abertas nas costas ardiam, mas a dor no peito...<br /><br />- Aaargh!<br /><br />Coloquei a mão direita no núcleo da dor e percebi um buraco... Muito sangue, droga! Algumas pessoas corriam ao som de tiros e gritos. Um embaralhar de pernas que me desorientava. Já não compreendia bem os sons para distinguir se vinham em minha direção ou fugiam. No asfalto uma sombra ameaçou se aproximar e começou a me cobrir. Eram monges.<br /><br />Por cinco segundos permaneci assustado, mas a dor que me esmagava no asfalto trazia a perfeita noção de que eu fazia parte daquele cenário. Aqueles jovens de veste grená passavam por mim e me olhavam, seus olhos confortavam meu coração e minha dor pareceu fazê-los maiores.<br /></div></span><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Eles eram gigantes agora. Minhas pálpebras pesaram e um sono irresistível invadiu minha alma. Na sombra entre o último suspiro e o fechar dos olhos vi os tanques recuarem... Um silêncio...</span></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-90841718072922817022007-09-24T11:53:00.000-07:002007-09-26T11:02:04.587-07:00Concentração!Um dia desses me ocorreu pensamento muito louco. Quer dizer, pensamento não, sentimento... Estava em casa em mais uma sessão de estudos quando embaixo da mesa de vidro escuro, na qual apoiava meus livros e cadernos comecei a perceber uma movimentação frenética para lá e para cá.<br /><br />Era noite e para economizar na conta de luz utilizava uma pequena luminária para conseguir enxergar o que lia. Essa situação dava ao ambiente um toque de penumbra e a impressão que eu tinha era a de que o silêncio aumentava quanto menos luz houvesse.<br /><br />Aquela movimentação inquietante embaixo da mesa atrapalhava meus estudos, volta e meia surpreendia meus pensamentos tentando advinhar do que se tratava ou ainda se era alucinação da minha mente conturbada com tanta teoria.<br /><br />A situação acabou se agravando. Quando percebia a movimentação do objeto não identificado bem ao fundo do meu raio de visão eu virava a cabeça em sua direção e... Nada. Já havia sumido. Pronto, o estudo já estava esbulhado! Não ia descansar enquanto não entendesse o que acontecia: estava eu maluco ou existia sim algo se movendo enlouquecidamente?<br /><br />Esperei uns trinta segundos quando, enfim, se apresentou um cidadão menor que a ponta da minha caneta Bic, com duas asas transparentes batendo igual a um idiota na porcaria do vidro da mesa!<br /><br />Era um daqueles bichinhos de luz, o maluco devia estar achando que o vidro não existia e voava na direção da luz quando de repente... POF!<br /><br />Ha, ha! Coitado. Fico imaginando seus pensamentos confusos, sem entender o que ocorre: 'por que diabos não consigo alcançar a luz? Ela está ali, estou indo em direção a ela... Bem até aqui tudo certo... Só que... POF!' Ha, ha! Muito burro!<br /><br />Zuei mesmo! Pô... Fica atrapalhando minha concentração. O bichinho estava fazendo pior do que o chato da biblioteca. Com este pelo menos é só fazer um XIIIIU que ele pára de atrapalhar. Se bem que muitas vezes o mané, solidário que só, passa a falar baixinho, sussurrando... Putz... que raiva, não, não, prefiro o...<br /><br />- POF!<br />- Oh, maluco! No caderno não! Sai, Sai, vamos rapaz...<br /><br />O retardado do bichinho deu de cara no caderno, daquele tipo com espiral.<br /><br />- Vamos seu doido! Você está pedindo um peteleco... Ha, ha! Olha isso...<br /><br />Ele estava entrando e saindo daqueles furos nas folhas do caderno por onde passa o arame do espiral. O que esse cidadão está pensando da vida? Que a vida é uma folha de papel? Imagine se eu fosse um bichinho desses... acham que ficaria perdendo tempo?<br /><br />- Vai ler um livro, evolui! Por isso é que está aí, nessa escala da evolução, dando com a cara no vidro sem entender o que acontece! Atrapalhando a vida de quem está tentando melhorar...<br /><br />Quer saber, vou tirá-lo daqui, fazê-lo voar... Assoprei o bicho para longe. Caramba, ele deve ter caído lá naquele canto escuro. Ah! Ele vai sobreviver!<br /><br />- Vai seu prego... acende a outra luz. Daqui a pouco enche daqueles bichinhos de luz e aí não conseguirá se concentrar...<br /><br />- Tá.. tá bom.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3512874289091729632.post-9525744125682085262007-08-30T11:22:00.000-07:002007-08-30T11:23:39.966-07:00Um dia que não acabou...<div align="right"><br /><br />Rio de Janeiro, 08 de agosto de 2007.</div><div align="left"><br /><br />- Vamos filho, vai, sobe!<br /><br />Pegamos o ônibus naquele dia, início de tarde. A memória me trai agora, não consigo lembrar para onde seguíamos. Era um lugar distante, disso eu lembro.<br /><br />Eu já era um adolescente, devia ter doze, treze anos e conseguimos um assento próximo ao motorista, naqueles bancos altos. Estávamos ali, um do lado do outro, seguindo junto.<br /><br />Conversamos durante todo o percurso descobrindo um pouco mais um do outro. Num certo momento dormi. A segurança de estar ao lado do seu pai ombro a ombro, não pode ser expressa em palavras, não por mim, por isso não há como reproduzir aquele sentimento. Dormi apoiado em seu ombro... sei que me sentia seguro, sentia conforto, mesmo naquele balanço do ônibus. Talvez tenha até sonhado.<br /><br />A viagem continuou e noutro momento me levantei para dar lugar a uma senhora que acabara de entrar. Fiquei ali, em pé, todo orgulhoso de ter feito isso na frente dele, como nas épocas em que ele nos levava, eu e meus irmãos, para jogar futebol, nosso técnico, conselheiro.<br /><br />Logo voltei a me sentar ao seu lado... Imagine uma criança, um adolescente que seja, desembestando a falar, com gestos e sorrisos, eufórico, às vezes com lágrimas ou mesmo em silêncio, tristezas e felicidades, sobre tudo o que ocorre em sua vida e ao seu lado um senhor olhando, observando, sereno, com um abraço, um carinho, ensinando a ela que vencer nem sempre é chegar em primeiro, que na maioria das ocasiões, vencer é chegar...<br /><br />Aquele dia nunca irá acabar, o ônibus não parou ainda e continua lançando vento através das janelas, vento que acalma fazendo dormir e até hoje desembestado conto aventuras e tropeços, e ele deve se emocionar as vezes, mas hoje suas lágrima só vem quando chove...<br /><br />(Alves Deotono)</div>Unknownnoreply@blogger.com2