quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Um dia que não acabou...



Rio de Janeiro, 08 de agosto de 2007.


- Vamos filho, vai, sobe!

Pegamos o ônibus naquele dia, início de tarde. A memória me trai agora, não consigo lembrar para onde seguíamos. Era um lugar distante, disso eu lembro.

Eu já era um adolescente, devia ter doze, treze anos e conseguimos um assento próximo ao motorista, naqueles bancos altos. Estávamos ali, um do lado do outro, seguindo junto.

Conversamos durante todo o percurso descobrindo um pouco mais um do outro. Num certo momento dormi. A segurança de estar ao lado do seu pai ombro a ombro, não pode ser expressa em palavras, não por mim, por isso não há como reproduzir aquele sentimento. Dormi apoiado em seu ombro... sei que me sentia seguro, sentia conforto, mesmo naquele balanço do ônibus. Talvez tenha até sonhado.

A viagem continuou e noutro momento me levantei para dar lugar a uma senhora que acabara de entrar. Fiquei ali, em pé, todo orgulhoso de ter feito isso na frente dele, como nas épocas em que ele nos levava, eu e meus irmãos, para jogar futebol, nosso técnico, conselheiro.

Logo voltei a me sentar ao seu lado... Imagine uma criança, um adolescente que seja, desembestando a falar, com gestos e sorrisos, eufórico, às vezes com lágrimas ou mesmo em silêncio, tristezas e felicidades, sobre tudo o que ocorre em sua vida e ao seu lado um senhor olhando, observando, sereno, com um abraço, um carinho, ensinando a ela que vencer nem sempre é chegar em primeiro, que na maioria das ocasiões, vencer é chegar...

Aquele dia nunca irá acabar, o ônibus não parou ainda e continua lançando vento através das janelas, vento que acalma fazendo dormir e até hoje desembestado conto aventuras e tropeços, e ele deve se emocionar as vezes, mas hoje suas lágrima só vem quando chove...

(Alves Deotono)