sábado, 22 de dezembro de 2007

Não chora, vai passar!

- Não! Não tem como você explicar a minha existência! E se meu destino indicar no sentido do mal? Como saber quem sou? Prever o que pode ocorrer?

- Meu filho... Vem cá.

A mulher, de vestido estampado e olhos umidecidos pela dor que sua experiência ensinava a sentir em momentos como aqueles, abraçou o rapaz. Ambos estavam sentados num banco de rua. Os ventos balançavam seus cabelos enquanto a mulher trazia com as mãos a cabeça do rapaz para repousar em seu ombro.

O rapaz sofria. Um sofrimento infantil por coisas da vida. Era um jovem frágil de estatura mediana que acabara de saber que não saíra do ventre de sua mãe. A sensação de quem o viu no momento da revelação foi a de que o menino teve o coração retirado e no lugar colocado uma pedra de gelo. Seu corpo todo esfriou. Sua face entristeceu e expressou um sentimento de interrogação:

- O quê? Repetia sucessivamente.

A mãe sabia que não seria o fim do mundo revelar tal segredo, mas também sabia que até o rapaz entender isso, sofreria um pouco. Logo que a pedra de gelo derreteu as pernas do rapaz começaram a se mover e ele correu. Esperava no inconsciente que estivesse chovendo lá fora, para compor o momento, mas era o dia mais quente do ano. Dezembro, Rio de Janeiro.

O rapaz, que não era um atleta, logo cansou. Parou, respirou fundo, bem fundo mesmo e se desconstruiu em lágrima. Desmoronou. A mãe se aproximava acompanhada de um tio do rapaz. Antes de alcançarem o garoto, a mulher suplicou ao tio que os deixassem a sós naquele momento. Dois minutos de insistência e o tio cedeu, foi embora.

A cidade estava linda, a praia estava cheia e o rapaz nunca tinha visto tanta gente feliz em toda a sua vida e quanta gente bonita, mas seu coração martelava suas tentativas de renascer. A mulher se aproximou e o ergueu. Os dois sentaram no banco. O rapaz tinha os ombros caídos de depressão e derrota, foi quando ele esbravejou as dúvidas que lhe acometiam em relação a sua existência.

Enquanto abraçava sua mãe, ergueu os olhos, e, ainda com a visão embaçada com as fugas das lágrimas, viu na calçada uma criança correr em seu sentido, se desequilibrar e cair. Ao tocar o chão a criança exercitou a força dos seus pulmões num grito ensurdecedor de choro.

Rapidamente o rapaz alcançou a criança, foi o primeiro a chegar. Pegou a criança ainda de boca aberta, passou a mão com ternura em sua cabeça falando baixinho:

- Não chora, não chora, vai passar...

Os pais da criança chegaram e com um sorriso agradeceram antes de receberem a criança de volta. Despediram-se e seguiram... O rapaz observou a família desaparecer no horizonte e um senhor que desde a outra ponta da praia vinha desejando feliz natal para todos, fez o mesmo com ele. O senhor andava bem devagar com o corpo meio curvado, mas com um sorriso de criança. Com isso veio na mente do rapaz as primeiras palavras que ouviu logo após a revelação:

- Tu num vai chorar por isso!! Disse o tio insensível.

"É mesmo" já pensava o rapaz àquela altura.