sábado, 12 de julho de 2008

Um choro de criança.

Mãos trêmulas. No peito, insuportável incômodo causado pela dificuldade de respirar. O ar preso dividia espaço com a vontade de berrar. Estava mudo. Sufocado. Explodir o silêncio com o grito entalado era a única salvação. Não consegui naqueles segundos. Inspirei três vezes, outra vez, porém não consegui expirar de imediato. Desespero. Olhar de perda. Tristeza...e um choro. Forte. Gritante. Lágrimas escorreram e a boca escancarada. Logo a seguir um abraço.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Não devia ter saído de casa!

Coloquei meu copo sobre o balcão, 'não devia ter saído de casa hoje', pensei. Estava numa boate, procurava fugir da solidão de um quarto vazio. Naquele momento, porém, só pensava na minha casa, na minha cama, derrotado pela solidão que sentia ali, com as roupas fedendo, no meio de tanta gente. Via as pessoas em preto e branco, muita fumaça de cigarro, a música batia em meus ouvidos, mas não havia lógica nas baladas, não havia sintonia entre ela e os movimentos dos dançarinos. Coloquei meu copo sobre o balcão 'não devia ter saído de casa hoje' pensei. Era a quarta vez que esse sentimento invadia meus pensamentos, já havia perdido a conta de quantas vezes colocara meu copo no balcão.
'Vou embora' decidi. Empurrei o copo com os quatro dedos da mão direita fazendo-o deslizar pelo balcão para longe de mim. Virei meu corpo e avistei a pista de dança decidido a atravessá-la até alcançar a saída do outro lado. Um mar de gente. No meu primeiro passo, um obstáculo. Esbarrei num cidadão que cruzava meu caminho num sentido perpendicular a trajetória que eu traçara. Não sei se a colisão se deu por conta dos copos que bebi, não sei se por imprudência do cidadão, ou pelo fato da pista estar lotada... Nem quis saber, só queria ir para casa.
Dei meu segundo passo e o terceiro. No quarto passo, a minha visão se perdeu. Senti minha coluna curvar, meus passos cruzaram-se, e num segundo meus cotovelos encontraram o chão. Tudo estava muito escuro. Não entendia mutio bem o que ocorria. De repente um impacto na barriga. Várias pernas se aproximaram e junto com as pernas, os pés. Estes procuravam meu rosto. Mesmo com as mãos tentando protegê-los, comecei a sentir um líquido quente escorrer. Sangue.
Não houve tempo para perceber a dor, antes de tudo escurecer, lembrei rapidamente do noticiário do fim de semana. Minha família passou como um raio na minha cabeça. 'Nunca mais iria vê-los'. Meu corpo desfaleceu.