domingo, 26 de setembro de 2010

Por que a gente esquece então...

Andei lendo sobre você, que história! Não o conhecia. É engraçado isso. Eu estava com o jornal na mão, o jornal que sempre leio. Nunca tinha dado bola para uma determinada coluna, mas esses dias soube que você morreu e, passando os olhos pelas letras grandes, li um dos títulos: "Uma homenagem a Amaro". Naquele momento estava ouvindo uma música popular causadora de uma sensação de saudade que não me lembro qual. Isso trouxe coragem para ler a coluna do jornal. Descobri que você foi campeão pelo América, jogou pelo Corinthians, pela Seleção Brasileira e até pelo Juventus da Itália. Trocou passes com Pelé, marcou bem o Garrincha... Foi um grande jogador. Poxa vida. Você estava por aqui, jogando ainda suas peladas e nós nem aí para nada. Que pecado. Quantas histórias mais podemos encontrar presentes ainda nesse mundo, são presentes mesmo. No momento em que eu lia fiquei tão emocionado que chorei, não sei o porquê. Por que temos que esquecer? Por que temos que esquecer? Seria mais humano lembrar... A emoção foi tamanha que me pareceu uma boa música aquele time do Mequinha com Djalma Dias, João Carlos, Quarentinha, Pompéia, Nilo, etc. E Amaro é claro. Você me parece ser boa gente. Desculpe só lembrar de você agora, quando o conheci... Mas desculpe também por aqueles que não deveriam tê-lo esquecido. Vem aqui me dá um abraço logo antes que esqueça. Por que a gente esquece, então?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Estava no céu...

Estava no céu, de alguma forma eu cheguei lá. Bebi bastante no dia anterior e provavelmente, uma besta que sou, devo ter dirigido. Olhando para trás, lembrando de alguns momentos inesquecíveis da minha vida, não pude deixar de observar o quanto eu não merecia estar ali. Lógico que não pensei em voz alta. Não entendo como pode acontecer tamanha confusão. Na fila do elevador havia três pessoas na minha frente. Acredito que aquele elevador deveria ser o destinado a pessoas da mesma região que a minha. Obviamente merecedoras de tal graça. Falo isso porque eu conhecia as três pessoas. Moravam no meu bairro. Um médico, um juiz e um padre. Cara, eu me arrepio até agora de lembrar do grito das pessoas que desciam. Lembro-me bem do momento em que o ascensorista exclamou: - Bem, faltam três! Na minha frente os três sorriram. Eu pensei: “filhos da .... !” E logo depois me arrependi. “Será que pensamento conta? Putz... Se já estava difícil conseguir uma vaga, agora então fu... de vez!” e os pensamentos se descontrolaram “calma, respira, pensa numa folha branca”; “pô, é muita pressão, eles têm que compreender e anistiar alguns pensamentos”; “que injustiça”. Eu senti que o jogo ia virar quando eu vi que o ascensorista estava com a camisa do Flamengo por baixo do uniforme. No desespero, tentei uma malandragem. Neste instante senti que os ventos estavam a meu favor. Comecei a cantarolar o hino do mengão bem baixinho para não explanar... O ascensorista esticou o pescoço como se procurasse de onde vinha o som. Disfarcei um pouco, para não dar pista de que fazia com segundas intenções. Ele fez gestos que, de onde eu estava, de canto de olho, me criou a esperança de que o plano funcionara. Mas que nada... O couro comeu... Dois guardas se aproximaram e começaram a me empurrar, perguntaram se eu sabia ler e me deram tapas na cara para eu direcionar meu rosto para o que estava escrito no cartaz. “Putz grila”. Só na quinta bordoada fiquei tranqüilo para ler o que estava escrito. “Não acredito que não vi uma placa enorme daquelas”. Os caras eram truculentos e os muquiranas da fila ao invés de ajudar iam passando na minha frente. Espremiam-se. Iludidos de que apertando caberia mais no elevador. Entre um chute e outro, uma cacetada na barriga e uma cotovelada, fui vendo o tanto de gente que estava naquela fila. Comecei a sentir a cabeça pesada e já estava de joelho quando consegui ter sobriedade para analisar aqueles infelizes. “Pô, tem até político nessa fila, árbitro de futebol, ex- BBB”; “Não é possível”; “que mole que eu dei, tava fácil, fácil entrar”. A última cena que me lembro é do rosto do capanga cheio de ódio antes de soltar mais uma paulada. Reuni o último suspiro e gritei: - Que merda de céu!! Não sei se os caras continuaram me batendo ou não. Meus pensamentos voaram, cai num sono profundo. Sonhei bastante. Sonhei com os amigos, com meus irmãos, meus pais, e depois acabei lembrando que tive algumas atitudes na vida que poderiam até me render uma suplência no céu. Acho que nessa hora se alguém estivesse me observando deveria me ver com um sorriso de canto de boca. Realmente fiquei feliz com aquele sonho. Acordei numa cama de hospital. “Putz, fui para Terra de novo”. Reparei melhor e estava tudo muito organizado para ser a Terra. Pelo menos que eu me lembre eu não tinha Plano. O quarto era branquinho, parecia o céu. “Ué, peraí. Será?”. Olhei para um lado, olhei para o outro e avistei um vaso com flores e um cartão com o meu nome no criado-mudo. Abri o cartão e li: “Caro Senhor, blá blá blá desculpe-nos pelo transtorno blá blá blá enviá-lo para o lugar errado e blá, blá, blá”. Hahahahahaha. Ainda não consegui parar de rir...